05 setembro 2015

O 5º BATALHÃO DE NORFOLK - A lenda da abdução de um regimento na I Guerra Mundial




A história do 5º Batalhão do Regimento de Norfolk, do Reino Unido, durante a I Guerra Mundial, passou a integrar o complexo de lendas do mito ufológico quando no ano de 1965 um grupo da Nova Zelândia, o "New Zealand Scientific Space Research Group” em sua revista trimestral chamada “Spaceview”, divulgou uma história fantástica de nuvens estranhas e da abdução de centenas de soldados e oficiais do 5º Batalhão, contada através de uma carta assinada por três veteranos militares cinquenta anos após o ocorrido, de eventos que consideraram ter testemunhado. Testemunhas aparentemente críveis e uma suposta legitimidade dada por alegados informes oficiais. Vou resumir o testemunho e confrontá-lo com a verdade, uma história de sangue, desespero e morte nas terras montanhosas da península de Galípoli.


A LENDA DA ABDUÇÃO DE UM REGIMENTO NA
I GUERRA MUNDIAL

O TESTEMUNHO UFOLÓGICO NA SPACEVIEW

“Gallípoli, 28 de agosto de 1915.

(...) um dia muito claro, (...), sem nuvens à vista, excetuando unicamente seis ou sete em formas de pães que apareciam no alto, sobre a Cota 60. (...) apesar de soprar um vento de seis ou sete quilômetros por hora, aquelas nuvens não se moviam nem mudavam de forma. Desde nossa posição, situada numa altura de uns 150 metros e superando mais ou menos em 90 a elevação da Cota 60, podíamos distinguir outra nuvem de idêntica forma, porém muito baixa, que parecia quase arrastrar-se pelo solo. Poderia medir 250 metros de longitude por uns 60 de largura e altura. Perto da zona de onde se combatia, a nuvem apareceu estranhamente densa, quase sólida a vista, refletindo intensamente a luz do sol. (...) Todo quanto antecede foi observado por 22 homens (...) Como se comprovou depois, a estranha nuvem se achava deitada ao longo de um leito seco de rio (...), e víamos perfeitamente os lados dos extremos da nuvem, que, como digo, descansava no solo. (...) Algumas centenas de homens do 5° Regimento de Norfolk subiam o leito seco do rio, (...). Foram penetrando nele sem vacilar..., porém nenhum deles voltou a sair pelo outro lado nem pode jamais chegar a tomar posições (...). Quando havia penetrado o último dos homens, a nuvem se levantou como uma névoa qualquer, porém conservando sua forma. Alcançou a altura das demais; (...) Em questão de uns três quartos de hora, haviam desaparecido totalmente de nossa vista. O Regimento em questão se considera «desaparecido» ou «exterminado», e quando a Turquia se rendeu, em 1918, a primeira coisa que a Inglaterra exigiu a Turquia foi a devolução deste Regimento. A Turquia contestou que não havia capturado nem havia estabelecido contato com ele, (...) Nós, abaixo assinados, embora muito tempo depois do sucedido, ou seja, no 50° aniversário do desembarque dos ANZACS, declaramos que o incidente antes descrito é certo da primeira à última palavra. ”


Nota do blog: assinam três soldados das Forças Armadas da Austrália e Nova Zelândia (ANZAC) que pertenciam a um corpo encarregado de abrir trincheiras e caminhos nas marchas.


Desembarque das tropas aliadas em Galípoli - 1915
Crédito: Bundesarchiv, Bild 183-95000-347 / CC-BY-SA
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Essa é a história contada por esses três homens. 


A VERDADE

Vamos a história como ocorreu. Em 2012, o escritor inglês de memórias das I e II Guerras Mundiais, Steve Smith, publicou o livro “And They Loved Not Their Lives Unto Deat”. No livro, em particular ele se debruça sobre o acontecido em Galípoli com o 5º Regimento de Norfolk em 12 de Agosto de 1915, não em 28 de agosto como na carta dos três homens. Expandindo suas pesquisas, Steve Smith lançou entre julho e agosto de 2015, cinco artigos no sítio “Great War Britain – Norfolk Remembering 1914-18”, que magistralmente contam a verdadeira e emocionante história do 5º Regimento de Norfolk em 1915 em Galípoli, além de ricamente ilustrado com fotografias de época do regimento. Nem de perto poderei colocar toda essa história aqui, aos leitores que queiram se aprofundar, encontrarão os links disponíveis no final desse artigo.

Foi no dia 28 de agosto de 1915 que jornais de Norfolk, Reino Unido, noticiaram a perda de oficiais do o 5º Regimento de Norfolk.

Outro artigo de 07 de janeiro de 1916 do jornal Eastern Daily Press, região de Norfolk, utilizando informe do Comandante das operações da Campanha de Galípoli, Sir Ian Hamilton, divulga que parte do 5º Regimento de Norfolk, seguindo seu comandante, o coronel Sir H. Beauchamp, favorecido momentaneamente por menor oposição turca, penetrou numa área de floresta com 16 oficiais e 250 homens, empurrando os inimigos, e depois nunca mais foram vistos, tendo o restante do batalhão, entre feridos e homens extenuados, voltado à noite para o acampamento.

Mas em 15 de fevereiro de 1916, o jornal Lynn News informou que um dos oficiais do 5º Regimento perdido, estava ferido e se recuperando em um hospital de Constantinopla, prisioneiro dos turcos. O pequeno artigo finalizava:

“Esta notícia do Capt. Coxon virá como um alívio não só para seus amigos, mas também para aqueles que ainda estão à espera de notícias de outros oficiais e soldados do 5º Norfolks. É óbvio que um oficial no hospital teria mais oportunidades para escrever para casa e para seus amigos do que outros que não foram feridos, mas são prisioneiros de guerra.”

O mesmo jornal publicou outro artigo onde parte dos homens reapareceram. Dos 177 homens considerados desaparecidos pelas autoridades, 2 oficiais e 13 soldados estavam prisioneiros de guerra e 25 outros mortos ou em hospitais dos Aliados. Faltavam 137 homens.

Steve Smith nos proporciona depoimentos de soldados e oficiais do 5º Regimento de Norfolk, analisando o desenrolar da batalha. Caos, baionetas, tiros, metralhadoras, sede, cansaço, morte.

Em 1919 o capelão do batalhão Reverendo Pierrepoint-Edwards foi incumbido de localizar os desaparecidos. Ele encontrou os corpos de 122 homens do 5º Regimento de Norfolk, dos quais apenas dois puderam ser identificados. Eles estavam enterrados e espalhados por cerca de uma milha quadrada, a 730 metros atrás das linhas turcas. Muitos haviam sido mortos numa fazenda e seu dono, ao encontrá-los em decomposição, os jogou numa pequena ravina.

Um artigo no sítio da "Gallipoli Association" também conta a história real da brigada e afirma:

"Muitos feridos, homens desorientados e exaustos voltaram para as linhas britânicas ao longo dos dias seguintes. Sobrevivendo à guerra como prisioneiros foram, pelo menos, dois oficiais e trinta e um de outras fileiras do ataque das brigadas (...) O número de vítimas final para os 1/5th Norfolks foi ajustado para quinze oficiais e 141 homens mortos em 12 de agosto (...). Este é o fato, não o mito."


PASSAPORTE A MAGONIA

Jacques Vallee em seu livro Passaporte a Magonia publicou a carta dos três soldados, no entanto, imediatamente antes escreveu: "Por ora, é preferível estudar os documentos, embora devo confessar que considere alguns destes casos sem nenhum valor (embora a sua documentação não seja inferior a dos casos mais dignos de crédito que se oferecem a nosso estudo)."

Referências: 

https://stevesmith1944.wordpress.com/2015/07/29/the-15th-battalion-norfolk-regiment-at-gallipoli/

https://stevesmith1944.wordpress.com/2015/08/10/the-15th-battalion-norfolk-regiment-at-gallipoli-2/

https://stevesmith1944.wordpress.com/2015/07/12/part-3-the-15th-norfolk-regiment-at-gallipoli/

https://stevesmith1944.wordpress.com/2015/07/12/the-15th-battalion-norfolk-regiment-at-gallipoli-part-4/

https://stevesmith1944.wordpress.com/2015/08/14/the-5th-battalion-norfolk-regiment-at-gallipoli-part-5/







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